terça-feira, julho 11

Arthur Rimbaud (1854-1891) – Poeta francês da escola simbolista, movimento literário e das artes plásticas do final do século XIX. A maior parte da obra de Rimbaud foi criada antes dos seus vinte anos.


“Passo a passo
Pégasus, pegadas
Pelo espaço a conquistar
Bola de neve, morro abaixo
Sempre em frente
Pra cima, pro alto
...
Há muito já não somos
Como já fomos – todos iguais
Iguais a poucos que ainda andam
Iguais a todos que andam loucos
Iguais a loucos que ainda andam”
- Humberto Gessinger


Chego ao pensionato. Não cruzo com a Medusa até o meu quarto. Escapo, incólume. Por quanto tempo, estranho cabisbaixo?
Meu quarto: não sei quantos metros quadrados ou qualquer porcaria dessa natureza tem aqui. Sou péssimo em matemática. Mas, sei que é pequeno pra burro. Quando entro nele, vejo aqui todo meu universo. Muito pequeno. Talvez aumente se eu encontrar as respostas para minhas perguntas. A reunião de amanhã, no Piano Bar, faz parte disso. Antes, porém, para que meu apequenado universo esteja seguro, tranco a porta. Tenho medo da Medusa ou de algum dos seus esfomeados lobos invadirem meu quarto, durante a noite. Me vê uma porçãozinha de pernil de Messina, por favor.
Olho ao redor. E nesse olhar, percebo que falta algo em meu quarto, excetuando-se a minha substância, obviamente. Recapitulo:

* Uma cama com um colchão fino e rasgado fedendo a mofo;
* Uma cômoda onde guardo minhas roupas e meus CDs;
* Uma cadeira;
* Um computador.

Algo está faltando. Seria um espelho na parede? De forma alguma. Odeio espelhos. Não me olho num espelho há anos. O que falta em meu quarto é importante, vital. Mas não consigo identificar exatamente o que é. Paro. Penso. Olho ao redor. Ouço passos do lado de fora. Passos que se aproximam. Meu coração acelera – deve ser ELA, a razão dos meus pesadelos. Fico em silêncio para não chamar sua atenção. E em silêncio, examino o quarto, novamente. Paro. Penso. Falta algo. Mas o quê? De repente, ele aparece e eu me lembro. Sai de trás da cômoda, parecendo feliz com minha chegada. É ele: RAUL. Meu rato, meu mascote. Inicialmente um visitante ocasional atrás de comida. Hoje, um companheiro de quarto. Mas não divide comigo as despesas. Grande Raul!
Ele realmente parece feliz com minha chegada. Corre dum lado para o outro. Fico satisfeito em saber que alguém se alegra com minha presença. Mas o bicho faz muito barulho. Levo o dedo aos lábios.
- Quieto, Raul. Você não quer atrair a atenção da Medusa, quer?
Raul é um rato esperto. Ele pára no mesmo instante. Encara-me, assustado com a perspectiva que acabo de lhe trazer à atenção. Que rato não se assustaria com ignominiosa probabilidade? Então, ele volta para trás da cômoda na ponta dos pés. Grande Raul!
Ouço os passos novamente. Mais próximos. Bem próximos. Fico estático. Olho para a porta. Tenho a impressão de que um monstro vai entrar quarto adentro. A porta vindo ao chão e eu, vulnerável como Raul. Estou morto. Definitivamente morto.
Mas ao invés da porta ser arrombada, percebo um papel deslizando por debaixo desta, para o interior do quarto. Fico imóvel. O papel também. Cena medonha. Os passos se fazem ouvir, novamente, desta feita se afastando. Lentamente, como num filme de terror (minha vida é um filme de terror, e eu sou um ator coadjuvante – acho que já falei sobre isso), vou até a porta e pego o papel. É um bilhete, um pedaço de uma folha de caderno Tilibra. E nele está escrito:

“DEIXA TEUS ALUNOS EM PAZ, LUNÁTICO, OU JAMAIS ENCONTRARÁS A SAÍDA DESTE HOSPÍCIO”

2 Comments:

At 12/7/06 09:21, Anonymous Anônimo said...

Isso prende minha tenção, o tom me agrada, veremos o que dá.

 
At 12/7/06 21:01, Blogger Benvinda Palma said...

Meu caro e grande escritor!

Vim pagar sua gentil e calorosa visita!
Adorei teus contos....muito bem escritos...bem articulados...prende a atenção até a última palavra! Um mestre das palavras!

Mais uma vez, obrigada por sua tão gentil visita ao meu blog....humilde...sou apenas aprendiz desta maravilhosa arte! Lendo seus contos, aprenderei muito!

Forte abraço

Benvinda Palma

 

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